quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Clã dos Gomes

Euskádi (País Basco):

Sobrenome patronímico, derivado de nome próprio: Gome, sem que, como sucede nesta classe de sobrenomes, as várias famílias que o detêm terem qualquer relação entre si. Seus solares mais antigos foram os localizados nas montanhas de Burgos e Santander, na Euskádia (País Basco). No início da reconquista espanhola, distinguiu-se um cavaleiro chamado Gome, de quem Rodrigo Gómez foi descendente e sucessor nos seus estados, que governou nas montanhas de Burgos. Do conde Fernán "el Negro", batizado em homenagem pelo corvo negro que carregava por armas, estavam os sétimos netos de Diego Gómez, que morreram na batalha de Campo Espino, perto de Sepúlveda (Segóvia). Vários ramos provaram a sua nobreza para entrar nas Ordens Militares perante a Sala Hijosdalgo da Real Chancelaria de Valladolid e o Real Tribunal de Oviedo. Entre os povoadores do Reino de Valencia aparecem esta linhagem (com a grafia Gomeç) nos censos das populações e anos que se indicam: em Cocentaina nos anos 1290-1295, em Oriola 1300-1314, em València 1354-1373, Alfara do Patriarca Benifaió e Onda em 1379, em Cocentaina, Forcall, Alzira e Sueca em 1399.

Portugal:

GOMES. Os indivíduos deste apelido não constituem uma só família, porquanto a designação familiar foi na origem patronímico. Ignora-se quem primitivamente usou as armas que os Gomes trazem, não devendo ser dos princípios, nem, talvez, da primeira metade do século XVI, pois não vem registradas no Livro do Armeiro-mor, nem no de Antonio Godinho. A Carta de brasão de Armas mais antiga que se conhece, na qual se mencionem armas de Gomes, é de 20-III-1621. Se este documento é verdadeiro na parte genealógica e as armas de Gomes, provem da linha indicada, vieram de Espanha com Martim Gomes Bravo, fidalgo galego casado com Cecília Cardoso, criada da infanta D. Joanna, irmã do Rei D. João II, das quais nasceu Fernão Gomes Bravo, pai de Miguel Gomes Bravo, natural de Aveiro, escudeiro-fidalgo da Casa de D. João III, bisavô de D. Maria Gomes Bravo, natural de Esqueira, casada com Diogo Dias Coimbra, natural da comarca da Esgueira, moço da câmara do mesmo Príncipe, terceiro avô de João Gomes Coimbra, natural da vila da Esgueira, e de sua mulher, D. Maria Jorge de Almeida, natural de Lisboa, e quarto avô de Diogo Dias Coimbra Pimentel de Amaral, a quem se passou a referida carta de brasão de armas. Este último era irmão inteiro de D. Apolinário de Almeida, patriarca da Etiopia e bispo de Nicéia, e de D. Gregório dos Anjos, primeiro bispo do Maranhão e Grão-Pará. Podem, ainda, as mencionadas armas ser privativas desta linha, mas já concedidas em Portugal, talvez no reinado de D. João II, pois nelas figura um pelicano.

As armas usadas pelos Gomes são: de azul, com um pelicano de ouro, ferido de vermelho no ninho. Timbre: o pelicano do escudo.

Etimologia: Existem registros do século IX como Gomizi e Gomiz, em castelhano utiliza-se Gomez e Güemes, sua origem provável pode ser, uma abreviação do visigodo  “Gomoarius" que significaria “Homem de Guerra", o qual pôr vezes foi utilizado como nome próprio. Isto é de origem patronímica. 

Brasil:

Há diversas famílias com este sobrenome, em diversas partes do Brasil, de origem portuguesa, e espanhola. 

Sobrenome também adotado por cristãos-novos, a partir de 1497, no que pese não haver nenhuma correlação do sobrenome em sua origem, muito mais antiga, e de uso corrente, pelas respectivas famílias originárias do étimo.

Família Gomes em Minas Gerais:

Em Minas Gerais, estabelecida na Zona do Carmo, encontra-se, entre as mais antigas, a de Francisco Gomes Pinheiro, que mudou para Minas na era do seu povoamento e foi um dos desbravadores da zona do Carmo, do rio Doce e do Casca. Sesmeiro, de 1736, em Barra Longa, casou-se com Antônia Pereira de Araújo. 

Ainda em Minas Gerais, registra-se a de João Gomes Martins Barcelos, que veio para o Brasil, estabelecendo-se em Sumidouro, Minas Gerais, o fundador de Palmira, hoje Santos Dumont. Deixou geração, em 1725, no Rio de Janeiro, com Clara Maria de Melo, pais do inconfidente José Ayres Gomes.

Os Aires Gomes (Ayres Gomes):

Antiga e importante família de origem portuguesa estabelecida no Engenho do Mato, Minas Gerais, para onde passou João Gomes Martins Barcelos, nasc. a 21.02.1685 na Freguesia de S. Félix de Gondifelos, termo de Barcelos, Conselho e Comarca de Vila Nova de Famalicão [Portugal], onde foi batizado a 25.02.1685.
“Aos vinte e cinco dias do mês de Fevereiro de seiscentos e oitenta e cinco, baptizei a João, filho de Antônio Gomes e de Maria Martins sua mulher, de Reparada, que nasceu a vinte e um do dito mês. Forão padrinhos João Gonçalves marido de Isabel da Costa da mesma aldêa e Ana Martins mulher de João Gonçalves da Comieira desta freguezia e por verdade fiz este que assino aos sete de março da dita data." Ass. Manuel Lopes. 
Filho de Antônio Gomes, natural da Freguesia de São Félix de Gondifelos, termo de Barcelos, Conselho e Comarca de Vila Nova de Famalicão, casado a 2 de Novembro de 1678, na Freguesia de São Félix de Gondifelos, com Maria Martins, natural da mesma freguesia que seu marido. João Gomes Martins, emigrou para o Brasil, estabelecendo-se em Sumidouro, Minas Gerais.

A Cidade mineira de Santos Dumont, outrora Palmira, que por muitos anos se conheceu por João Gomes, foi por ele fundada. Deixou numerosa descendência de seu casamento, no Rio de Janeiro, a 05.1725, em residência do pai da noiva, com Clara Maria de Melo, nascida na Freguesia de N. S. da Apresentação do Irajá, Rio de Janeiro, filha do Cap. Manuel Neto Barreto (nascido em São Pedro de Alcântara, da Ilha da Madeira, bispado de Funchal) e de Clara Soares de Mello (nascida em São Bernardo de Inhaúma, Rio de Janeiro).

Família gomes no Acre:

No Acre, cabe registrar o português José Gomes dos Santos, que descerrou o seringal Independência, por volta de 1878, situado no rio Purus, oitenta milhas acima da foz do rio Acre. 

Família Gomes na Paraíba/Rio Grande do Norte:

Duarte Gomes, foi dos povoadores mais antigos e consideráveis da capitania. Nacera em Olinda cerca de 1555, filho de Pedro Alvares da Silveira e Da. Maria Gomes Bezerra. Na segunda entrada de Martim Leitão na Paraiba em 1585, que tanto contribuiu para a pacificação do litoral, seguiu como comandante de uma das forças, lugar tenente do ouvidor geral, encarregado da expedição á serra da Copaoba. Ainda não estava de todo assentada a posse del-rey, e Duarte se estabelecia em 1590 na várzea onde elevou o mais importante engenho da região. 
Grato ao seu esforço, atestava Frutuoso Barbosa em carta elogiosa: 
"Certifico em como é verdade que Duarte Gomes da Silveira, Fronteiro nesta conquista da Paraiba, está servindo ao dito Senhor (el-rei Felipe I de Portugal) . . . annos a esta parte em todas as guerras desta conquista, precedendo ao dito serviço tão bem como o de hum cavalleiro bom ... sempre a sua custa a despeza com cavallo, armas, escravos e homens brancos de que se serve. . . sendo dos primeiros que em todas as ocasiões se achava prestes, assim pera a guerras de mar contra os corsarios, como por terra contra potiguares e gentio. . . e . .. foi sempre o mais occupado morador nas cousas do serviço de S. Magestade e em compor seus capitães . .. ". 
No começo da guerra holandesa, auxiliou eficasmente aos portugueses na construção do forte de Santo António, planejado pelo engenheiro Diogo Paes, na embocadura do Paraiba, afim de servir de complemento ás obras do Cabedelo, forte moderníssimo e notavel para a época. Depois da vitória dos olandeses, mudou de orientação, o que pode ser levado á conta de prejuizos materiais e morais que sofreu das operações militares: " ... havia despendido consideravel fazenda; e lhe matarão hum Filho unico ", informa Brito Freyre. Rico de engenhos e escravos, ezitou em hostilizar o invasor, tornando-se suspeito ao partido dos seus patrícios. Por um lado, via o abandono do Brasil pela metrópole; por outro, sentia-se cativo das boas intenções de um habil capitão e melhor político como Artichofski. "Homem rico, coração de lebre" diz um ditado alemão, alusivo aos opulentos que só pensam em salvar os bens de fortuna, e Duarte Gomes teve a fraqueza de justifica-lo celebrando uma convenção com o mercenário, que devia garantir as pessoas, haveres e liberdade de conciência dos paraibanos. 

Este apêgo a tres cousas, hoje geralmente consideradas sem valor, trouxe-lhe grande odiosidade dos seus conterrâneos. Aprisionado no correr das lutas por António de Albuquerque, foi libertado pelos holandeses, o que ainda mais o comprometeu. Embalde pouco depois protestasse contra o desrespeito do ajuste feito com Artichofski, continuou de mal a pior com os paraibanos, e como as suas reclamações fossem consideradas subversivas, também se indispoz com os sucessores menos avisados do polonês a serviço da Holanda. A conseqüência foi o velho povoador ser encarcerado no forte do Cabedelo, á sombra do qual edificara a sua fortuna através de combates contra índios e franceses. 

Nos Diálogos ha uma referência ao pernambucano, embora não se lhe cite o nome. Diz o suposto autor Ambrósio Fernandes · Brandão, 
"sabeis em quanto é rica (a Paraíba) que com só uma cousa vos reprezentarei sua riquesa, a qual he que ha hum homem nobre particular neste Brasil, o qual com não possuir mais de hum só engenho de fazer assucar, ouzou prometter a todas as pessoas que fizessem casas na cidade, que então de novo se fabricava (sempre na acepção de "primeira ves" ou "novamente"), sendo de pedra e cal de sobrado a vinte mil reis por cada morada de casas, e a dez mil reis, se fossem terreas; e assim o cumprio por muito tempo, com se haverem alevantado muitas moradas, sem disso se lhe conseguir algum proveito mais do dezejo que tinha de ver augmentar a cidade. E tratou mais ... de fazer a casa da Santa Misericordia da propria cidade, cousa de grandiosissimo custo pela grandesa e nobresa do edifício do templo que tem já quasi acabado". 
Supõe-se que Ambrósio escreveu em começos do século 17, para terminar por volta de 1618, período que abranje o melhor da atividade de Duarte Gomes. 

Vinte anos depois, Elias Erckmans, na sua descrição da Paraíba, confirma tudo que vai acima, e informa que Duarte Gomes da Silveira iniciara: 
"magnifico predio ao lado occidental do convento de São Bento para lhe servir de casa; mas não está acabado, e se acha quase que em caixão, mostrando quão grande seria si estivesse concluído". 
Agravara-se muito a situação do senhor de engenho no domínio holandês, quando caiu sob a antipatia do diretor lppo Eyssens. Segundo Rodolfo Garcia a causa vinha da sua recusa em lhe conceder a mão de uma das suas sobrinhas. Viveu, contudo, Duarte Gomes bastante para prezenciar a retirada do conde de Nássau, marcando o declínio da empresa holandesa no Brasil. 

Para terminarmos a história de Duarte Gomes da Silveira, diremos que, nos anos felizes, anteriores á invasão holandesa, constituira o primeiro morgado da Paraiba, sem no entanto deixar de concorrer com onze contos para as obras da Misericórdia, enorme quantia para o tempo e região. Outras despesas suntuárias que fazia na mesma época, já foram mencionadas, como a construção da sua. casa, citada por Elias Erckmans. Uma delas foi elevar jasígo para si e sua mulhér Da. Fulgência Tavares na capela do Salvador, com os seus retratos de cada lado da imajem de Cristo. Não nos diz Brito Freyre, si alí foi a sua última morada, pois numa quadra de lutas, nas quaes entrava fanatismo religioso, os templos eram comumente incendiados. Informa apenas que, os 
"Olandeses receosos da inconstancia deste Home, Q detiverão em apertadas prisões, muitos annos, sospeitando voltaria para os Nossos, com a propria facilidade, que se passou para elles".
Família Gomes em Pernambuco:

Em Pernambuco, entre outras, registra-se a família do Coronel João Antônio Gomes, de 1749, vindo de Portugal para Recife, Senhor dos Engenhos Mercês e Penderama, este na Vila do Cabo em Pernambuco. Comerciante e proprietário no Recife, deixou numerosa descendência do seu casamento no Recife, com Caetana Maria de Deus Pires Ferreira, em 1752, no Recife, filha de Domingos Pires Ferreira, patriarca desta família Pires Ferreira, de Pernambuco.

Família Gomes em São Paulo:

Em São Paulo, entre as mais antigas, encontra-se a de Pedro Gomes casado com Isabel Afonso, filha de gentio da terra, com a qual deixou geração. Além deste, registram-se seus descendentes Luís GomesMatias GomesGaspar Gomes e Lourenço Gomes

Para São Paulo, registra-se uma ilustre família de músicos, originária da Espanha, procedente de Don Antônio Gomez, de casa nobre de Pamplona, e que, fazendo-se bandeirante, desbravava o interior de São Paulo, encontrando, não ouro, mas outra coisa que, para ele, foi mais preciosa: uma belíssima índia, filha de um cacique guarani, que lhe deu muitos filhos (Vasconcelos. Raízes da Música, 196).

Entre os descendentes do casal, registram-se: Manuel José Gomes, 1868, mais conhecido por Maneco Músico, professor, compositor e mestre da Banda de Campinas. Deixou importante descendência, estabelecida em Campinas, SP, do seu terceiro casamento com Fabiana Maria Jaguari Cardoso, que morreu tragicamente, muito moça ainda. Deixou o bisneto, José Pedro de Sant'Ana Gomes, filho do anterior, o mano Juca, violinista, regente e também compositor, o maior amigo de seu famoso irmão, o maestro Carlos Gomes; outro bisneto, Antônio Carlos Gomes (1896, Belém do Pará), irmão do anterior e filho do terceiro casamento, um dos maiores nomes da música brasileira, autor de belas operas e modinhas. Seu tataraneto, Íbero Gomes Grosso, de, 1905, de São Paulo, sobrinho-neto do maestro Carlos Gomes. 

Da Linha de Batina em São Paulo, registra-se José Gomes de Almeida, filho do coronel Jerônimo Martins Fernandes, cavaleiro na ordem de Cristo e de Josefa Caetana Leonor Mendes de Almeida. Neto paterno de João Gomes e de sua mulher Maria Fernandes, e bisneto de Francisco Gomes, casado com Maria Martins de Macedo. Gomes de Almeida, teve um filho, que legitimou, chamado Francisco Martins de Almeida, sargentomor de guardas nacionais, na província de São Paulo, com Carta de Brasão de Armas.

Família Gomes no Rio Grande do Sul:

No Rio Grande do Sul, registra-se a de Inácio Gomes, casado em 1780, em Estreito, RS, com a índia Florencia (L.º 2.º, fl.10v). 

Família Gomes no Rio de Janeiro:

No Rio de Janeiro, entre as quase 150 famílias com este sobrenome, dos séculos XVI e XVII, a de Amador Gomes, de 1598 a 1654, o qual deixou larga descendência, a partir de 1624, com Isabel Teixeira

Do Rio de Janeiro Pedro Gomes passou à Bahia e ocupou todos os postos nas milícias e deixou geração por lá. 

De Nobreza Titular, família de abastados proprietários de terras, membros da aristocracia cafeeira, estabelecida no Estado do Rio de Janeiro, à qual pertence José Luiz Gomes, filho de Francisco Luiz Gomes irmão do Padre Dr. Alexandre Caetano Gomes, escritor, e de Ana Margarida de Jesus Breves, integrante da poderosa família Breves, do Vale do Paraíba Fluminense. SargentoMor de milícias, alferes do 2.º Batalhão de Angra dos Reis. Um dos maiores benfeitores da Cidade de Piraí, proprietário das fazendas de Santa Maria e Ponte Alta. Vereador e presidente da Câmara Municipal de Piraí. Delegado de polícia da mesma cidade, barão e Juiz de Paz de Mambucaba, em 1854. Deixou geração dos seus dois casamentos, sendo o segundo, com Maria Rosa da Conceição, filha do Capitão José Tomás da Silva e de Rosa Maria da Conceição; Jacinto José Gomes, agraciado, em1873, com o título de barão de Monção.

A Família Gomes na Bahia

Afonso da Franca, filho terceiro de Leonor da Franca e seu marido Manuel Gonçalves Barros foi capitão de infantaria. em que serviu a el rey muitos anos, casou com D. Maria Gomes, filha do mestre de campo Pedro Gomes, que governou o Rio de Janeiro, e de sua mulher D. Isabel Madeira, filha legítima de Domingos Lopes Falcato e de Ágüeda da Costa. viúva do capitão de infantaria Lázaro Lopes: e teve filhos.

Na Bahia, entre as mais antigas, cabe registrar a de Pedro Gomes, figura central de seu tempo. Passou para a Bahia e aí ocupou todos os postos nas milícias, sempre se distinguindo, até o de mestre de Campo, foi Governador do Rio de Janeiro, Fidalgo da Ordem de Cristo, que deixou geração com a viúva, Isabel da Costa Madeira, filha de Domingos Lopes Falcato e de Águeda da Costa. Foram pais, entre outros, de Antônio Gomes, que tornou-se o patriarca da importante família Gomes Ferrão Castelo Branco da Bahia. 

Ainda, na Bahia, registra-se a família de Agostinho Gomes, cavaleiro na ordem de Cristo, Cavaleiro Familiar do Santo Ofício. Negociante na cidade de Salvador, Bahia. Descendente das famílias Fontoura e Carneiro. Deixou geração com Isabel Maria Maciel Teixeira, filha de Bento Maciel Teixeira e de Maria da Silva. Foram pais do Padre Francisco Agostinho Gomes, negociante na cidade de Salvador, Bahia, com legítima dispensa e Carta de Brasão de Armas.

PEDRO GOMES. Natural de Arcos de Valdevez, filho de Domingos Alvares, teve foro de fidalgo cavaleiro em 1655, por serviços prestados no Brasil, que serviu 32 anos nas guerras deste Estado subindo de soldado a todos os postos, até sargento-mor do Terço do mestre de campo João Araujo, ou desde a restaurarão da Bahia em 1624 distinguindo-se na resistência a Pero Perez (1627), no Sítio de Nassau à prara (1638), quando ficou ferido de uma pelourada na perna (ganhou dois escudos de vantagem), principalmente na retirada com Luiz Barbalho dos baixos de São Roque à Bahia ("u d tr capitã s" I m os qua o e que aque e mestre de campo para se fazer a jornada por terra dos desembarcados da armada do conde da Torre), ferido em Goiana, herói na campanha do mestre de campo Francisco Rabelo no São Francisco, participando das aroes que se deram quando Von Schoppe ocupou Itaparicá. Sargento-mor do Terço Velho da Bahia em 1651, tenente do mestre de campo em 1657, governou o Rio de JaneIro, nomeado por D. Manuel Lobo, de marco de 1680 a janeiro de 1682, Baltazar da Silva Lisboa, Anais do Rio de Janeiro, IV, p. 293, Rio, 1835

PEDRO GOMES DA FRANCA CORTE REAL. Filho do mestre de campo Pedro Gomes, e natural da Bahia, começou a carreira das armas com o irmão, Manuel de Barros. Serviu em Pernambuco, comandou o Partido de Sergipe do Conde 2 de junho de 1679, Anais da B.N .. v. 36, p. 367, teve praça de soldado alferes de infantaria, alferes de mestre de campo (embarcando na ocasião em que o Marquês as . mas mandou um navio e duas sumacas para correr a costa atrás de um navio de piratas), e, com oito anos na praça da Bahia, foi promovido a capitão confirma el-rei a 2 de março de 1694, Arq. públ. da Bahia, Registro de Patentes ~ 1697, fi. 283. A 24 de novembro pediu o soberano ao governador Informa~oes sobre a sua r~~úncia ao m,andato de vereador, Anai~ do Arq. públ. da BahIa, m, p. 216. Famlhardo Santo Ofício, 15 de março de 1696, T.T., Fam., m. 10, n. 250, co~one.l, Doc. Hist., IX, pp. 22-23, governador do Terço Velho (esclareceu a 7 de JaneIro de 1700 D. João de Lencastro Anais da B N 36 261), tenente de mestre de campo com 36 anos de seviço em 1714 -.: ~~tr~ ~~ sua~ proezas fi~~ra a da saída de Ilhéos em 1700, em busca do rio Patite (Pardo), subIda do Jequitinhonha, entrada nos sertões do rio das Contas, castigo do gentio. O padrão de tença de 120 mil réis dado, a 29 de abril de 1738, a suas duas filhas (abaixo), comemora-lhe o "descobrimento de algumas minas de ouro e prata nas cabeceiras do rio Pardo e Verde, escusando-se algumas pessoas dessa diligência" , em cinco meses. com 70 soldados, o que lhe custou. 2 mil e 60 cruzados de sua fazenda, "a todo risco de vida". Por süa contribuição à história natural, louvada na Academia Brasílica dos EsquecIdos, a que pertenceu, O Movimento Academicista na Bahia, V, p. 204, pode-os incorporá-lo na lista dos viajantes que no século 18 continuaram a pesquIsa científica dos missionários (veja-se ainda Mirales, op. cit., p. 56). Morreu a 23 de agosto de 1743 e foi sepultado na igreja de São Francisco, L. de Óbitos da Se, arq. da Cúria. Não casou, diz o linhagista. Mas lhe foi concedido em 1738 dividir com duas filhas, Perpétua e Feliciana, a tença recebida. Outra filha, Rosa Gabriela da Franca, mulher, a 20 de outubro de 1717, do capitão-mor de Porto Seguro, Geraldo Simões de Castro. Estes os pais de Maria Madalena do Nascimento da Franc~ batizada a 10 de outubro de 1725, casada a 10 de setembro de 1764 com José Pires Garcia, moedeiro de número da Casa da Moeda da Bahia, que tiveram Úrsula Isabel, batizada a 20 de julho de 1765 mulher de João Manuel Barbosa. Filhos, os alferes João Manuel e Manuel Barbosa da Franca, batizados a 7 de junho de 1780 e a 4 de julho de 1782. 


Genealogia da Família Gomes na Bahia:

1. Domingos Alvares c.c.

2. Pedro Gomes c.c. Isabel da Costa Madeira, f.ª legítima de Domingos Lopes Falcato e de Ágüeda da Costa, viúva do capitão de infantaria Lázaro Lopes.

3.1. D. Maria Gomes c.c. Afonso da Franca, terceiro filho de Leonor da Franca e seu marido Manuel Gonçalves Barros foi capitão de infantaria.

3.2. Pedro Gomes da França Corte Real (não casou, mas, consta ter tido duas filhas)



domingo, 10 de janeiro de 2021

Clã dos Alencastros / Lencastre / Lancaster

ALENCASTRO/LENCASTRE. Uma das famílias mais nobres de Portugal pela sua origem régia, não muito antiga, pois descende de D. João II, que teve em D. Ana de Mendonça, filha de Nuno Furtado de Mendonça, aposentador-mor de D. Afonso V e do seu Conselho, e de sua mulher, D. Leonor da Silva, um filho bastardo. D. Jorge. D. Ana de Mendonça recolheu-se no mosteiro das comendadeiras de Santos, em Lisboa, onde viveu honestamente e aí faleceu. Eram seus irmãos Jorge Furtado de Mendonça, comendador das Entradas, de Sines e da Represa, camareiro de seu sobrinho D. Jorge, e Antonio de Mendonça Furtado, comendador de Veiros, do Cano, de Serpa e de Moura, na Ordem de Avis. Tomou D. Jorge o apelido de Lencastre, que lhe vinha por sua terceira avó a Rainha D. Filipa de Lencastre, mulher de D. João I, filha do Duque de Lencastre e irmã do Rei da Inglaterra. D. Jorge foi muito estimado pelo Rei seu pai que, morrendo-lhe em 1491 seu único filho legítimo, o Príncipe D. Afonso, de uma queda de cavalo, intentou instituir herdeiro do trono o bastardo, ao que se opôs a Rainha D. Leonor, sua mulher, que pretendia ficasse sucessor da Coroa seu irmão D. Manuel, Duque de Beja, o que se deu. 

Rainha de Portugal
Leonor de Lencaster
D. Jorge de Lencastre foi Duque de Coimbra por mercê de D. Manuel I, senhor de Montemor-o-Novo e de muitas outras terras e mestre da Ordem de Sant’ Iago. Recebeu-se com D. Brites de Vilhena, filha do D. Álvaro de Portugal, justiça maior de Castela, filho do duque de Bragança D. Fernando, e de sua mulher, D. Filipa de Melo, de cujo matrimonio deixou filhos: D. João de Lencastre, marquês de Torres Novas e 1º Duque de Aveiro, casado com D. Juliana de Noronha, com geração; D. Luís de Lencastre, casado com D. Madalena de Granada, com geração; D. Afonso de Lencastre, casado com D. Violante Henriques, com geração; D. Jaime, bispo de Ceuta e capelão-mor da rainha D. Catarina; D. Helena, comendadeira de Santos; D. Afonso, frade Graciano, e D. Jorge, frade Jerônimo.

O apelido também se tem usado com as formas de Alencastro e de Lancastro ou Lancastre, esta a mais próxima do original.

As armas dos Lencastres são: De prata, com cinco escudetes de Azul, postos em Cruz, cada escudete carregado de cinco Besantes de prata, postos em sautor; bordadura de vermelho, carregada de setes castelos de ouro, e um filete de negro, posto em contra-banda e atravessante sobre tudo. Timbre um pelicano ferido de vermelho, no seu ninho, do mesmo. 

Obs: Hodiernamente, alguns, tem estampado o escudo dos Alencastros/Lencastre/Lancaster como sendo dos "Alencar", são troncos completamente distintos. Os "Alencar" não tem brasão, porque a origem do sobrenome é toponômica, da villa de Alencar.

D. João I c.c. Filipa de Lencastre

Rei Duarte c.c. Leonor de Aragão

Rei Afonso V c.c. Isabel de Coimbra

D. João II c.c. Leonor de Lencastre, f.ª de Fernando de Portugal, duque de Viseu, e de Beatriz de Portugal.

Brasil

Em São Paulo, teve por cabeça o Sargento-Mor de ordenanças Jerônimo de (Alen) Castro, neto de D. João de Lencastre, que foi Governador do Brasil (1694-1702), que por ser natural da freguesia de Santa Eulália de Fafe, bispado de Guimarães, arcebispado de Braga, acrescentou a seu nome o de sua cidade natal. Passou a assinar-se Jerônimo de Alencastro Guimarães. Em 1783 ainda vivia em São Paulo, onde havia se casado com Isabel Rosa de Oliveira. O Capitão Manuel José de Alencastre, nascido em São Paulo, filho do referido casal, passou para o Rio Grande do Sul, onde possuía uma sesmaria, em Triunfo, localizado na confluencia do rio Jacui com o Taquari, atualmente, é parte da região metropolitana de Porto Alegre, sendo seus primitivos povoadores. Contraiu matrimônio, na freguesia do Senhor Bom Jesus do Triunfo, na família Azambuja. Foi Tesoureiro e deputado da Real Junta da Capitania do Rio Grande de São Pedro e da Intendência de Marinha. 

Os Alencastro tomaram parte em todas as guerras no Prata.

Um dos filhos do Capitão Manoel José de Alencastro, o capitão de engenheiros José Joaquim de Alencastro (1784, Triunfo, RS), passou a Pernambuco, aonde se casou, em 10/05/1813, com Maria Eduarda Carneiro Leão (1795, Santo Antônio do Recife, PE - 14/02/1878, Rio, RJ), membro da tradicional família Carneiro Leão. Vindo a ser o patriarca dos Alencastro de Pernambuco, Ceará e Goiás. José Joaquim de Alencastro, e alguns de seus irmãos assinavam a forma Alencastro, enquanto que os outros, ao que parece, a forma Alencastre.

Governador Geral do Brasil D. João de Lencastre:

João de Lencastre ou D. João de Alencastro (Lisboa, 1646 — Lisboa, 1707) foi nomeado governador-geral do Brasil, com patente dada em 22 de fevereiro de 1694. Foi ainda governador dos Algarves.

Era filho de D. Rodrigo de Lencastre (morto em 1657), comendador de Coruche, e de D. Inês Maria Teresa de Noronha e Castro.

Oito anos administrou, com intensa e feliz atividade. Nenhum outro governador construiu tanto. Tocou-lhe por sorte, é certo, o mais belo decênio da evolução do Brasil colonial: quando os sonhos das minas, a miragem de todos, os seus antecessôres, as promessas antigas se concretizaram - em descobrimentos espantosos. Epoca de pacificação a ferro e fogo de tapuias e mocambos do nordeste. Da comunicação, pelos sertões, do Maranhão com a Baía. Da fundação das vilas, da reorganiçação da justiça, da moéda provincial, das frotas abundantes, dos intensos aprêstos da defesa dos portos - agora que as questões europeias (a confusa sucessão espanhola) ameaçavam estender à América as guerras do Velho Mundo. 

". . . Mandou pôr os fortes de Santo Antonio da Barra, de Santa Maria e de São Diogo na (Última perfeição e melhor fórma, além de mandar fazer o forte de Santo Antonio além do Carmo, levantar o Ornavéque e reduto a cavaleiro que defende as duas portas da Cidade e fabricar a nova Casa da Relação, da Moéda e da Alfandega, e reedificar com mais largueza a Casa da Câmara e Cadeia, como tudo se deixa ver nas suas inscrições, esculpidas; concorrendo também com incessante desvelo e solicita aplicação para se acabar o formoso templo da Matriz (Sé)" 

Tantas construções justificaram a abertura de uma escóla de traço, geometria e cálculo: a "aula de fortificações" que mandou el rey fundar em 15 de Janeiro de 1699 - e teve longa vida. "Por ser conveniente ao meu serviço hei por bem que na Praça em que ha engenheiro haja aula em que êle possa ensinar a fortificação havendo nela três discípulos de partido, os quais serão pessoas que tenham capacidade necessária para poderem aprender ... ".

Os últimos atos do governo de D. João de Lencastro foram a expedição para socôrro da Índia que aprestou em 1700, a exploração d'um caminho mais breve entre a Baía e as Minas Gerais, que logo el ... rei mandou fechar, proíbindo que se usasse tal comunicação, a creação da vila de Caravelas (1701) cujos sertões começavam a ser devassados pelos pesquisadores de ouro.  

Era tempo de voltar à pátria o diligente Lencastro. Esperou o sucessor, D. Rodrigo da Costa : "e me consta (atestou o novo governador) que vae empenhado, e que não teve negócio algum nesta praça nem fóra dela, publicando sempre, que a sua maior riqueza consistia no desinterêsse e zelo com que servia a Vossa Majestade". Em linguagem oficial não havia melhor elogio. 

São Salvador, que veio a ser a mais poderosa fortaleza do Brasil, após a invasão holandesa, e ser reformada pelo Governador Geral D. João de Lencastre, tida como inexpugnável.

Genealogia dos Alencastro /Lencastre / Lancaster:

Jorge de Lencastre, n. em Abrantes, em 11 de nov. de 1481 e f. em Setúbal, em 22 de jul. de 1550, c.c. D.ª Beatriz de Vilhena, n. em 1480 e f. em 1535.

Luís de Lancastre, 1.º Comendador-Mor da Ordem de Ávis (n. cerca de 1505; f. em 1574) c. em 1540, c. Magdalena de Granada (n. cerca de 1510) f.ª de João de Granada e de sua mulher Beatriz de Sandoval, f.º natural do rei de Granada Abu Haçane Ali e de Isabel de Solís.

João de Lancastre (n. em 1550; f. em 1614) c.c. Paula da Silva (n. em 1560)

Lourenço de Alencastro , Comendador de Coruche (n. 1586) c.c. D.ª Inês de Noronha (n. 1580; f. 1653), f.ª de Rui Telles de Menezes (n. cerca de 1560; f. em 1616) e de Mariana da Silveira ( n. por volta de 1560)

D. Rodrigo de Lencastre (n. 1600; f. 165) c.c. D.ª Inês Maria Tereza de Noronha e Castro  (n. cerca de 1620), f.ª de D.ª Maria Da Silva de Castro, (n. em 1600; f. em 1666, c.c. João da Silva Telo de Menezes, também nascido em 1600 e falecido em 1651.

D. João de Alencastro c.c. Maria Teresa Antônia de Portugal e Almeida (n. em 1650; f. em 1703).

Rodrigo de Alencastro (n. em 1677; f. em 1755) c. em 1713 c. Izabel Francisca Xavier de Castro Correia de Lacerda (n. em 1695)

Jerônimo de Castro e Alencastro Guimarães c.c. Izabel Rosa de Oliveira, ambos n. por volta de 1721.

Manoel Joze de Alencastro (n. em 1741; f. em 1815, RS) c.c. Maria da Luz de Menezes (n.em 1760; f. em 1860), f.ª do Capitão Francisco Xavier De Azambuja, n. em 1710, em Triunfo, RS, Brasil e f. em 1768, c.c. Rita de Menezes, n. em 1725 em Cunha, SP, Brasil e f. em 1801 em Viamão, RS, Brasil.          


Outros Clãs:

Keltoi - Pela Restauração da Nobreza Brasilaica
Clãs Brasilaicos
Clã Aguirre

sábado, 9 de janeiro de 2021

Clã dos Albuquerque Maranhão

A família Albuquerque se origina dos Meneses, sendo uma das mais distintas de Portugal, com o entrelaçamento de infantes das casas reais de Castela e Portugal.

D. Afonso Teles de Meneses, foi o primeiro povoador da vila de Albuquerque, e seu senhorio. Casou duas vezes: a 1ª com D. Elvira Gonçalves Girão, e do qual deriva o sobrenome Girão; a 2ª com D. Teresa Sanches, filha bastarda do rei D. Sancho I de Portugal, tendo como filho D. Afonso de Meneses, que foi alferes-mor, do rei D. Afonso III, seu co-irmão. 

D. João Afonso de Meneses foi casado, mas é incerto o nome de sua mulher, pois três atribuem. Segundo o Conde D. Pecro chamava-se D. Elvira Gonçalves Girão, filha de Gonçalo Rodrigues Girão, da qual teve vários filhos que seguiram o apelido Meneses e entre eles D. Rodrigo Anes Telo de Meneses, que sucedeu a seu pai na casa e terras, e, tem tempo do Rei D. Afonso X de Castela, foi terceiro senhor de Albuquerque. Casou-se com D. Teresa Martins de Soverosa, filha de D. Martim Gil de Soverosa e de sua mulher, D. Inês Fernandes de Castro, de cujo matrimônio nasceu D. João Afonso de Albuquerque, o primeiro que usou este sobrenome, tirado da vila de que foi quarto senhor.

Sucedeu D. João Afonso em toda a casa de seu pai, com o título de Conde de Barcelos, e exercitou o ofício de mordomo-mor de D. Dinis. Casou-se duas vezes: a primeira com D. Teresa Sanches, filha bastarda de D. Sancho IV de Castela, de quem deixou geração, em breve tempo extinta; a segunda, com D. Maria Coronel, filha de D. Pedro Coronel, ficando desde matrimônio D. Teresa Martins, que alguns autores dizem ser filha da primeira mulher, a qual se recebeu com D. Afonso Sanches, filho bastardo de D. Dinis e de D. Aldonça Rodrigues Telha.

Castelo de Albuquerque

No Brasil *

A família Albuquerque Maranhão é um ramo da Família Albuquerque no Brasil, assim, como os Cavalcanti Albuquerque. Descendem de Jerônimo d'Albuquerque Maranhão (N. 1548, † 1624), um dos 8 filhos de Jorge de Albuquerque (o Torto) com a índia Maria do Espírito Santo (Muyrã Ubi), filha do cacique Uyrá Ubi, e que foi o fundador da cidade de Natal-RN, após conquistá-la dos franceses, e depois, o Maranhão, e que toma o nome de Maranhão, ajuntando ao renome dos Albuquerques a glória do seu feito pessoal. Agora aparecia explicitamente no Brasil, uma nobreza sua – em sangue e sobrenome.

E a resistência se prolonga na descendência, geração pós geração: um Albuquerque elimina os franceses do Maranhão, outro toma aos ingleses o célebre forte de Cumaú, e um neto deste bate o comandante francês, governador da respectiva Guiana, soldado da grande época – Luiz XIV. Não é de admirar essa aptidão guerreira dos Albuquerques, n´uma época em que cada engenho era uma Casa forte. 


A Campanha Contra os Franceses

Em 1587, na campanha contra os franceses levado a cabo pelo Capitão Mór Francisco Leitão e Filipe Cavalcanti d´Albuquerque, no vale do Mamanguape: os valorosos potiguaras são dizimados; mas os franceses, refeitos na sua feitoria da Baía da Traição, vieram ajudá-los, em Capaoba, onde foi o mais forte da nova campanha. A sorte esteve indecisa; mas, finalmente, pendeu para os portugueses. Enquanto isso, outra luta se acendeu nas terras do principal Tejucupapo, sempre auxiliados os potiguaras pelos franceses. Nunca os defensores do Brasil-colônia desenvolveram mais valor do que ali. Houve capitão em cujo corpo se contaram quatorze flechas. Antonio de Albuquerque foi um dos heróis dessa vitória em que o francês mostrou quanto valia como soldado. Muitos dos seus oficiais acabaram a vida ali. Foi a última tentativa dos franceses na Paraíba, cuja conquista custou ao Brasil sessenta anos de lutas e muitos milhares de vidas.

Por esse tempo – da luta na Paraíba –, ainda é muito moço o futuro Albuquerque Maranhão; o mameluco criado na taba de seu avô Arco Verde – tão orgulhoso do sangue caboclo como da linhagem de reis que o pai lhe dera; Mas, em 1595, ele já aparece ao lado de Manuel Mascarenhas e, depois, será a figura principal na conquista do Rio Grande do Norte, para dirigir e assistir, dali, a ação de Soares Moreno, no Ceará. Com ele está o irmão Jorge de Albuquerque. É nesse influxo que se resolve definitivamente a situação no Norte, a qual, até aquele momento, tem sido, apenas, dilatada e adiada. Gentio e franceses se afastam, com a colonização que avança. Por meio de Jerônimo fazem-se as pazes com o forte e o melhor do gentio potiguara. Essas tribos, agora, vão ser o contingente sensível na população estável da colônia.

Em 1597, ainda moço, o brasileiro Jerônimo de Albuquerque alcança nove navios franceses no Rio Grande do Norte, no porto dos Bugios; e no futuro, quando o valente mameluco ganha a batalha de Guaxenduba, um dos mortos franceses é o célebre Migan, 14 vezes prisioneiros dos portugueses, de quem outras tantas vezes escapou... Esse retalho de crônica diz-nos muito bem a repetição das lutas por ali. 


A Conquista do Maranhão - A Jornada Milagrosa. 

A ação dos franceses no Maranhão tornou-se tão inquietadora para o Brasil que, ainda em tempo de Diogo de Menezes, foi mandado, por este: um memorial reclamando do governo de Madri providências contra o invasor. Veio Gaspar de Souza; a arrastada administração colonial teve, então, a resolução feliz de entregar o caso do Maranhão a Jerônimo de Albuquerque, e este, sem detença, comete ao intrépido e sagaz Soares Moreno a missão de fazer o reconhecimento do local e das condições em que ali se encontravam os franceses.

O sucesso da expedição sobre o Maranhão maravilhou a todos e fez que a chamassem de Jornada Milagrosa. Capistrano, na rapidez incisiva dos seus conceitos, comenta: “... milagrosa foi realmente, milagrosa de mocidade, de estouvamento: milagrosa sobre tudo de felicidade”. Já tivemos a razão do estouvamento: é a premência de quem tem de agir, e só pode resolver a forma da ação conduzido por ela mesma. Foi assim com Jerônimo. Felicidade... É uma atitude toda subjetiva, e que nada explica do caso, que foi o de efeitos objetivos bem patentes. Houve milagre, sim: o de uma energia absolutamente nova; a mocidade, que, por intuição, se projeta para o sucesso. E clamamos – milagre! Nem haverá outros, na ação humana. Gaspar de Souza, que aceitaria até não intervir, e que só concordou com a jornada porque a expedição tinha partido e havia dinheiro gasto, fez questão de que tudo não passasse da fundação de um forte, a oito ou dez dos franceses, para inquietá-los, tão-somente, em Tutoia, ou, quando muito, no Preá. Tivesse Jerônimo atendido essa ordem, seria a anulação da empresa, pela insuficiência, com o fracasso final do estabelecimento isolado, em face de um inimigo tão poderoso que era confessadamente respeitado e evitado. Tal projeto já é um sinal da decadência do português. Decênios depois, no Prata, com Colônia do Sacramento, realiza-se essa ideia da fortificação isolada em face do rival. As condições eram mais propícias no Prata do que no Maranhão, e, contudo, foi um desastre formidável. Jerônimo evitou o desastre porque agiu de acordo com as condições do momento e os interesses do Brasil, ainda que, para tanto, lhe foi preciso sair das ordens e enfrentar a impertinência de Diogo de Campos. 

Logo ao partirem do forte de Jericoacoara (Forte das Tartarugas), último posto do Brasil antes do  Maranhão, houve conselho de oficiais, pronunciando-se Diogo  de Campos peremptoriamente contra qualquer avanço além de Tutoia. Foi voto único, e a expedição se dirigiu, desde logo, para o Preá. O local era estéril e absolutamente impróprio para um aquartelamento prolongado, pelo que decidiu Jerônimo ordenar o reconhecimento, com Martins, Machado e Rangel, em busca dos franceses, de quem nada se sabia no Preá. Com a volta de Rangel, e as boas notícias que trouxe, a respeito de Guaxenduba, novo conselho se fez, onde Diogo de Campos foi igualmente peremptório, opinando que deviam ficar no Preá estéril; com ele concordaram os outros oficiais, menos os capitães brasileiros – Souza d´Eça e Fragoso de Albuquerque, e os soldados das respectivas companhias. Era um momento em que Jerônimo de Albuquerque devia hesitar: com Diogo de Campos, falavam as ordens trazidas, e quase toda a oficialidade. Mas, passou a hesitação, e o grande capitão fez seguir a expedição, até estabelecê-la em contestação com os franceses. Na escolha da posição do forte, novas oposições, a que Jerônimo respondeu no definitivo mando de seleção: “Quem me for amigo, não me aconselhe outra coisa!” E fez como entendia. Ora, essa escolha foi decisiva: a ela se deve o êxito da batalha, e que pareceu milagre. “Determinou o capitão-mor fortificar-se num vale, entre duas alturas que lhe ficavam sobranceiras...”. Relata d´Eça. E quando o inimigo, destemido e arrogante, veio ao ataque, Jerônimo pôde desenvolver, prontamente, a sua tática formidável: metê-lo entre dois fogos e dominá-lo completamente antes do segundo tiro... Tudo isto foi possível porque o ânimo do capitão havia captado os legítimos valores da guarnição; mas é certo que o influxo de Diogo de Campos tinha turbado a unidade de sentimentos: com ele estavam todos aqueles para quem a alma de uma nova pátria era um começo de hostilidade. No concreto da baixa rivalidade de Diogo de Campos, era isto o que havia, e foi daí mesmo que derivaram os motivos em que se teceram os conluios vis de Caldeira Castelo Branco. Daquele momento em diante, cresce ostensivamente o Brasil; multiplicam-se os indícios desta nova pátria, e que nos explicam, no futuro, todas as outras façanhas de brasileiros, nos nomes de Barbalho, Vidal, Rabelo... 

Convém apreciar o próprio desenvolver do milagre. Chegados ao Maranhão, mesmo na boa posição de Guaxenduba, estavam os nossos em condições de sensível inferioridade: no oceano, tinham os franceses mais possibilidades, bem explícitas no tráfico seguido que faziam para ali; nas águas interiores, era absoluto o domínio deles. Mesmo na boa posição em que se achava, Jerônimo havia finalmente de sucumbir: não tinha possibilidades de êxito, se pretendesse atacar os franceses; atacado, só poderia vencer se ao inimigo faltasse calma e uma mediana perícia para escolher o momento e aproveitar as muitas condições de superioridade. Diogo de Campos, que teve de obedecer e executar o programa estratégico e tático de Jerônimo, protestou a seu modo: cheio de lábias, escreveu um diário da campanha em que as ordens de Jerônimo são apresentadas e criticadas de modo a parecerem hesitantes, tíbias, desencontradas, confusas, inoportunas... até que, um belo dia, surge a refrega, e, de tais ordens, deriva o brilhante combate, com um sucesso que é milagre para toda gente. O capitão brasileiro, com os meios miseráveis de que dispunha, com a sua tática exclusiva, aniquila as forças com que o francês vem atacá-lo. No entanto, este, mesmo vencido, ainda tem superioridade em armas, aliados e recursos materiais, conservando um forte contingente de soldados europeus, quase igual à totalidade dos portugueses. São estes os resultados. Contudo, ainda hoje, quem lê a história daquela guerra sente os efeitos do depoimento suspeito de Diogo de Campos, porque, dos documentos e relatos de presença, é o mais ordenado, com valor de estilo. O outro, A Breve Relação, de d´Eça, retine de exatidão; mas é rijo e desataviado como a própria verdade. Então, tudo mais que se escreveu reflete as páginas de Diogo de Campos, e o grande feito de Jerônimo aparece como obra do acaso, a coroar os planos de um estouvado. Deixemo-nos, porém, de histórias feitas em puras repetições, e atenhamo-nos aos outros documentos e depoimentos, dos que, de um e outro lado, participaram da aventura; dos que foram atores, mas falaram sem a preocupação de abafar um rival. 

Vem aquela expedição, balda de tudo, balda principalmente de informações convenientes, e, sob o comando do hesitante e contraditório, chega sã e salva, e vai estabelecer-se no local mais conveniente, apesar de todas as ordens e objeções... Leem-se as páginas dos relatórios e depoimentos, e firma-se a convicção: a maior dificuldade que teve o comando foram essas críticas as objecções e as múltiplas sugestões, que vêm de todos os lados, logo que se descobre a disparidade de avisos nos postos superiores. E Jerônimo venceu essa mesma dificuldade interna. Resistiu a todas as insinuações que seriam prejudiciais e, de caminho, a meditar nas críticas, teve que parecer hesitante, tímido, irresoluto, contraditório... Foi assim, até que a sua intuição de guerreiro lhe mostrou o local conveniente para o plano que lhe daria a vitória. Agora, ninguém lhe notará hesitações, nem ele troca de parecer. Southey dirá dele: “Uma vez na batalha, não conhecia desfalecimentos”. Não: bem antes da batalha, ele foi decisivo, lúcido, formal, logo que esteve em condições de delinear a ação triunfante. Desde que descem em Guaxenduba, a vontade do capitão brasileiro domina os fatos, e tudo é explicitamente determinado por ele, numa ótima de direção, e que é a de aproveitar todas as colaborações úteis. Como o desenvolvimento da sua estratégia repousava na situação e disposição das fortificações, ele as soube tirar de Frias, apenas arquiteto. E, com isto: a oportunidade do ataque, todo movimento das forças inimigas, a própria temeridade do adversário... tudo que concorreu para a vitória foi consequência explícita dos motivos que Jerônimo soube criar. No entanto, os mais incisivos ataques de Diogo de Campos dizem com a escolha e as condições do acampamento, e a imprevidência na ocasião do combate... E o capitão-mor teria sido, já imprudente, já medroso... Ora, se impedindo o francês de aprisionar três embarcações, ou indo atacá-lo nos seus redutos, Jerônimo o tivesse tornado cauteloso e seguro, nunca teria obtido que ele viesse, por si mesmo, oferecer a ocasião da estupenda vitória com que se consagrou o seu nome e que decidiu, de uma vez para sempre, a secular insistência desses inimigos. De um golpe, saindo do seu forte como o imaginou, o mameluco conseguiu desorientar o francês, ceifar-lhe as linhas de combatentes, imobilizar grande número de outros soldados brancos, anular por completo o concurso dos soldados índios, reduzindo-os à impotência, obrigando-os à fuga desordenada e perdida...

Chegado às águas do Maranhão, Jerônimo põe em prática os seus processos costumários com o gentio, procurando cooptá-lo. Pouco a pouco, chegam-se os índios: avisam-no do premeditado ataque dos franceses. Jerônimo despreza, ou finge desprezar, o aviso: a consequência é o ataque incauteloso do inimigo. Trava-se a peleja, e tal foi a situação tática das suas tropas, que, sendo o atacado, em inferioridade de forças, ele impôs, de um lance, impetuosamente, a sua vontade aos atacantes, e foi senhor absoluto da luta, para o triunfo imediato. Para os franceses, não houve possibilidades de contestar e, menos, ainda, de vencer. Vieram atacar com a maior parte das suas forças: desceram 200 soldados europeus, e uns 2.000 índios, deixaram para reserva, embarcados, outros tantos brancos e muitos índios ainda. Jerônimo, no estudado dos seus planos, opôs-lhes imediatamente a quase totalidade dos seus soldados: quatro companhias, sem discriminação de índios; duas seguem pela praia, para apanhar a retaguarda do inimigo; e este, impávido, se prepara para o ataque da posição, quando vê surgirem, inesperadamente, as outras duas companhias, a própria vanguarda de Jerônimo, que as comanda em pessoa, ao lado do capitão d´Eça. Alcançado antes de tentar qualquer fortificação de defesa, antes de gastar munições, o francês é abatido fulminantemente. Foi como se houvera caído numa cilada: o atacante teve a sorte de uma guarnição apanhada de surpresa. O embate foi de soldados aguerridos, mas, entre dois fogos, estava desfeito o inimigo. Jerônimo mesmo teve de dominar com a sua espada o Sr. de Pisieux. E os franceses foram levados à derrota, apesar de valentes, apesar de atacantes... 

Nesse tempo, e porque o feito devia ser decisivo, já o grande mameluco havia mandado incendiar as canoas dos índios aliados dos franceses, e eles, atordoados do golpe que a estes abatia, agora, só pensaram em fugir. Era, já, a desorientação geral, a derrota que desnorteia. E os próprios franceses atiravam-se às ondas, em busca de salvação. Finalmente, morreram 90 dos brancos inimigos, entre os quais, 7 grandes fidalgos; aprisionaram-se 19, e foram queimadas 46 canoas. São cifras dos próprios vencidos.

Com Albuquerque Maranhão estão dois filhos; o mais velho sai da vitória com três feridas. E o grande capitão, se bem que orgulhoso delas, não se mostra insolente, nem brutal, como o supunha o francês: é que o patriotismo fizera dele um hábil político, de ótima diplomacia. Com a sua tática, ele dominara a grande superioridade do adversário; mas precisava, ainda, tornar aquela vitória definitiva, em bem do Brasil, e com essa diplomacia ele o conseguiu de modo absoluto. Chegou ao ponto de trabalhar para conservar no Brasil, incorporando nele, aquela população de intrépidos franceses, com a boa experiência que tinham da terra e do seu gentio. 

O médico francês, ao aproximar-se de Jerônimo, torna-se um grande entusiasta dos seu méritos, e refere-se, em modo muito expressivo, ao espanto dos franceses quando receberam a primeira, e, sobretudo, a segunda carta do grande capitão: a singela superioridade dos dizeres, sem fanfarronice, nem ameaças, cativou inteiramente o ânimo dos fidalgos vencidos, e que esperavam encontrar-se com selvagens e mamelucos, grosseiros e insolentes. Ao mesmo tempo, o homem de arte, dá o testemunho de como, pelo trato pessoal, Jerônimo fez seus inimigos grandes afeiçoados: “Nunca vi gente tão honesta.” Ele havia curado, também, um filho de Jerônimo, o mais velho, ferido de três tiros. 

Jerônimo Albuquerque Maranhão

Vencem as forças do Brasil, mas é tal a desproporção de meios entre os contendores que, apesar de quanto perderam, ainda os franceses têm superioridade: restavam-lhes 200 soldados europeus, muito gentio aliado, todos os recursos materiais de quem está em casa, num estabelecimento feito, e o domínio absoluto, com o conhecimento perfeito das águas interiores e de todas as suas dificuldades. Jerônimo teria ficado com uns 300 soldados brancos e mamelucos, mas, em tudo mais, inclusive o tratamento dos feridos, estava à mercê dos vencidos. Todavia, ele não aceitou a situação sem motivos mais explícitos: da gente inimiga que entrou em combate, um certo grupo se colocou numa eminência, no mato, e continuou a ameaçar. Então, o próprio capitão foi desalojá-los, e tal resistência encontrou que se retirou, com a perda de sete dos seus homens. Aí, ele teve a ideia nítida da força que ainda restava aos franceses, e da necessidade de não fornecer ensejo de qualquer vitória, em que estes se retemperassem do golpe que receberam. Foi nessa conjuntura, certamente, que o nosso primeiro general fez a flexão de conduta, para o efeito de aceitar as tréguas com Ravardière. Agora, de sob o estrategista e tático elegante, emerge o político, de uma política bem distinta, porque já é nitidamente brasileira.
 
Essas tréguas foram então, pró-fórmula, reprovadas pelo Governo, que delas tirou o resultado principal – os aprestos de socorro. Lisboa teve de desaprová-las. d´Eça, grande soldado brasileiro, mas exclusivamente soldado, condenou-as, antes de qualquer outro. O seu julgamento seria perfeito se das tréguas resultasse que perdêssemos; mas, como foi bem o contrário que se deu, temos de deixar em nada todo o seu critério. Todavia, esse brasileiro foi dos mais eficazes na vitória, e merece que lhe apreciemos os motivos. De fato, não há outros senão o ânimo do valente, mal resignado, a embainhar a espada, quando ainda podia desfechar golpes... Ofereceu-se ao comandante para ir com a sua companhia acabar com o inimigo, desenvolveu o seu plano de tática... E Jerônimo preferiu assegurar o resto da vitória sem maiores guerras... d´Eça protestou, altissonante, ele mesmo o diz: 

“... teve muito dares e tomares com o capitão-mor...”. A atmosfera preparada por Diogo de Campos dava para tanto. O certo é que, se a iniciativa formal para tréguas partiu do campo inimigo, as entradas foram feitas por Diogo de Campos, e Jerônimo aceitou o pacto, na superioridade de quem é solicitado. Ainda assim, as primeiras aquiescências não foram dele. É d´Eça mesmo quem o diz: Ravardière pediu alguém a quem fizesse propostas, Jerônimo mandou-lhe o mesmo Diogo de Campos, certamente porque conhecia a língua francesa, e este, quando veio, já foi, por si mesmo, todo propenso às tréguas propostas. A sua influência ia de novo dividir os alvitres, como no Preá; e o capitão-mor preferiu ser político: compreendeu que a sua responsabilidade alcançava mais do que as simples veleidades de guerreiro, e desta vez aceitou o parecer de Diogo de Campos. Senão: por que preferiria Jerônimo não persistir na luta armada? Por covardia?... Por incapacidade?... Nunca ninguém o viu vacilar na peleja. Quem soube transformar a simples resposta a um ataque em triunfo estrondoso não se sentiria incapaz de continuar a bater o mesmo inimigo. Em face da proposta de tréguas, o mameluco Jerônimo foi mais caboclo do que Albuquerque: ganhou tempo, porque, no adiar, o inimigo devia perder todas as vantagens de antes, ao passo que a vitória frutificaria para os portugueses até que as forças se equilibrassem. “Apesar de vencedores”, comenta o historiador inglês Southey, “bem conheciam os portugueses a desproporção das suas forças... faltavam provisões; o inimigo os bloqueava com seus navios, e não se viam meios de salvação”. O inglês ainda não inclui o pior para o caso: o numeroso gentio que apoiava os franceses em torno das forças de Jerônimo. Assim mesmo as outras inferioridades dos portugueses curar-se-iam, agora, facilmente, ao influxo da vitória, enquanto os vencidos agravariam, com o tempo, a depressão da derrota. Os primeiros efeitos sobre os índios manifestam-se logo, na noite seguinte ao dia da batalha: o principal da ilha veio avisar a Jerônimo de que os franceses esperavam a ajuda de setecentos índios do interior: de fato, vieram; mas imediatamente retrocederam, sem outras manifestações contrárias aos portugueses. 

Aceitando as tréguas, Jerônimo lhes deu a sua inteira responsabilidade. Ao gesto de Ravardière, que assina em nome do Rei de França, ele responde afirmando o grande valor que dá a sua obra: ajunta ao renome dos Albuquerques a glória do seu feito pessoal, e toma o nome de Maranhão. Agora aparecia explicitamente o Brasil, com uma nobreza sua – em sangue e em qualidade, elevada no mérito de haver eliminado definitivamente o secular inimigo. As tréguas asseguraram aos portugueses a vitória efetiva, com um mínimo de perdas. Então, com os próprios recursos do Brasil, era relativamente fácil acudir a Albuquerque Maranhão, que, por si, bem sabia não ter poderes para tratar de modo definitivo; mas, político, quis tirar partido da situação transitória, até reforçar-se nos socorros que certamente lhe mandariam. O mais importante nos primeiros auxílios foi o Capitão português, Caldeira Castelo Branco, com uma pequena esquadra. Chegou, e não demorou em aproveitar todos os veios de invejas, despeitos, rivalidades... para se substituir a Jerônimo, com o que se inutilizaria a sua obra. Esteve por pouco: intrigou, traiu, alimentou facção, e deu ocasião aos maiores desgostos por que podia passar o grande mameluco. “Castelo Branco entrou em relações com o francês e procurou convencê-los de que tinha poderes para novos tratos, ao mesmo tempo que levava parte da guarnição a uma manifestação coletiva, em que pedia que ele, Caldeira, fosse comandante com Jerônimo”. E o adversário, único a lucrar com a parva ambição do intrigante, imediatamente viu o quanto podia aproveitar da sua estúpida deslealdade, e o acoroçoou, num jogo fácil de desunir e tomar tempo, enquanto lhe vinham socorros... Assim, quase se perde a obra do neto de Uirá-Ubi se, em si mesmo, Jerônimo não tem encontrado o motivo de dominar-se, e não descair para a fação: “É verdade que quando chegou Francº Castelo Branco... deu grandes entendimentos a todos os soldados, e franceses, que trazia largos poderes, e assim se amotinaram e se alevantaram os mais dos soldados da sua parte contra o Capitão-mor Jerônimo d’Albuquerque; e não esteve mais o negócio uma noite que haver um homem que metesse mão a espada, sendo assim, que nos perdêramos todos”. Mas o mameluco ergueu-se na melhor hombridade, a do patriotismo, e conteve a sua espada. Como lhe custou, ele o diz: 
... o que passei e sofri por não cair em bandos nem guerras civis, nos quais ouvira de ir parar tudo, sem achar quem me aconselhasse que tomasse armas para dar no francês, antes me  meteram em enredos de que me não sei livrar por me sentir mais para as armas, que para papelista, coisa que nunca usei”.  
A miséria do procedimento do português Caldeira é comprovada em todos os depoimentos, inclusive os dos soldados da sua facção, inclusive os dos franceses (Ravardière) que com ele trataram. Alexandre de Moura, capitão e administrador inteiramente afeito às coisas do Brasil, apesar de ser português, teve de render-se a essa evidência. Viera com grandes socorros, e instruções para liquidar a situação; correra o risco de perder a esquadra por motivos do trato de Caldeira com o Francês, e que valia por uma traição. Falou sempre com toda a autoridade, mas deu inteira razão a Jerônimo, e encarregou-o de resolver a situação militar. Dispondo-se para o combate final, Albuquerque Maranhão levou Ravardière a desistir de toda veleidade de resistência, entregando-se por completo. No entanto, ele próprio, Ravardière, confessou – que ainda tinha meios de lutar eficazmente: “Os Portugueses não tinham meios de obrigar-me a render-me...”. Mas, continuando, ele confessa que Jerônimo tomou-lhe imediatamente todas as saídas, e lhe anulou os meios de defesa. As vantagens dos processos de Albuquerque Maranhão são francamente reconhecidas pelo governo da metrópole, quando se rejubila de sua política que permite alcançar suavemente o mesmo que com as armas se pretende.

Sob o influxo de Albuquerque Maranhão, aquele Norte se fez imediatamente Brasil, na própria tradição de Pernambuco, donde procedia pelo ânimo dos que o conquistaram. O mesmo Alexandre de Moura, influindo em Gaspar de Souza, foi quem mais concorreu para que se destacasse do Brasil o que se chamou, depois, Estado do Pará-Maranhão, desunindo-se, assim, a nação que germinava na colônia. De nada valeu o recorte: o que um grande brasileiro fizera, perdurou, e aquela terra, onde até a morte se exerceu a ação da nova energia de Albuquerque Maranhão, ganhou definitivamente a alma do Brasil, como o afirmou nos momentos turvos de após a Independência.

Não fora a presença do inimigo nas águas do Maranhão, e o destemido e valoroso Albuquerque Maranhão teria puxado a espada contra o trêfego intrigante Castelo Branco. Bem antes disto, já a coesão patriótica dos de Pernambuco-Itamaracá tinha conseguido afastar todos os maus efeitos dos dissídios Frutuoso-Castejón-Morales.

Os Albuquerques Maranhão Contra os Holandeses:

Pouco depois, morre na Paraíba um Jerônimo de Albuquerque, quando secundava o octogenário Cardoso, no ataque ao forte que o holandês havia levantado; e o forte é tomado. Ali mesmo, o irmão desse Jerônimo, Antonio de Albuquerque, bate os invasores na primeira investida, e inicia a boa resistência. Afonso de Albuquerque dá de si o que pode, e, se não obtém maiores resultados é porque o deixam abandonado, em face das grandes forças de Artichojsky, reunidas às de Segismundo. 

Quando, repetidamente batido nas suas surtidas, o invasor se decide a criar novos postos, estendendo o seu poder até o Rio Grande, é mandado a esperá-lo Mathias de Albuquerque Maranhão, outro irmão de Antonio de Albuquerque, apontado para a empresa pelo valor patenteado na linha de guerrilhas que sustentara em Afogados. Weerdemburgh, comandante holandês, que devia operar no Norte, não teve ânimo de descer; foi quando as ações da Companhia baixaram a menos de metade do valor.

No Rio Formoso, Calabar domina com a sua estratégia terrível o forte comandado por Pedro de Albuquerque; a guarnição é de vinte homens, inclusive o comandante: já estão mortos dezenove, e Albuquerque ainda não se rende; com três feridas, atira-se ao rio, atravessa-o a nado, e tenta escapar. O batavo, rendido a tanto valor, recolhe-o, trata-o, e dá-lhe a liberdade depois.


Antonio d'Albuquerque Maranhão

Fidalgo da Casa Real, Capitão-Mor e Governador da capitania do Maranhão, em substituição ao seu pai, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que faleceu em 11 de fevereiro de 1618, no Engenho Cunhaú, no atual município de Canguaretama no Rio Grande do Norte. Foi também Capitão-Mor e Governador da capitania da Paraíba, nomeado para o cargo em 1622, assumiu apenas por volta de 1627, tendo governado até a conquista da Paraíba, pelos holandeses, em dezembro de 1634. Em outubro de 1649, através da instituição de um novo morgado do desejo expresso de D. João Afonso de Albuquerque e de sua segunda mulher, Dna. Violante de Távora, Antônio de Albuquerque, o filho mais velho de Jerônimo, foi nomeado 3º Senhor da Casa dos Bicos, de Brás de Albuquerque, em Lisboa. Lá casou-se com Joana Castelo Branco, neta paterna dos primeiros condes do Sabugal, com quem teve 2 filhos, Afonso de Albuquerque Castelo Branco e Antônia Margarida de Castelo Branco.

Em 1631, o Governador e Capitão-Mor da Paraíba, Antônio de Albuquerque Maranhão, preocupado com a defesa na barra do rio Paraíba, mandou construir na margem oposta, ao Cabedelo, no atual distrito de Costinha, em Lucena, o Forte de São Sebastião. Mandou também reforçar o fortim da ilha da Restinga, para assim formar um triângulo defensivo. No dia 2 de dezembro de 1631, uma frota holandesa de 16 naus, capitaneadas pelo tenente-coronel Stein-Callefels, com 1600 homens comandados pelo major Hugo-Wirich, saiu de Recife rumo a Paraíba, desembarcando no Cabo Branco no dia 05 de dezembro. Antônio Albuquerque, prevendo que o desembarque pudesse ocorrer na praia de Cabo Branco, havia montado uma linha defensiva no local que tentou impedir que o inimigo desembarcasse, porém, sofrendo grandes perdas, recuou até o forte de Cabedelo permitindo assim que os neerlandeses ali se instalassem. Após 6 dias de combates intensos tentando conquistar o forte e os portugueses a defendê-lo, o exército neerlandes constatou que não possuia homens suficientes para a empreita e retirou-se, na madrugada do dia 12 de dezembro de 1631. No início de 1634, os neerlandeses preocupados com a chegada do inverno, quando os ventos mudavam e dificultavam a vinda de reforços da Europa, resolveram atacar a cidade de Filipéia, na Paraíba, por pensarem ser este o local mais fácil de conquistarem com as forças que dispunham. Em 24 de fevereiro, 21 navios, levando 1500 homens, partiram de Recife para a Paraíba, repartidos em 2 divisões. A primeira divisão tinha como missão invadir o rio Paraíba e assumir o controle do fortim da ilha da Restinga, para bloquear a passagem do rio. A segunda divisão, da qual a primeira dependia, tinha como missão conquistar o Forte Santo Antônio, impedindo que este atacasse a primeira divisão. No dia 27, a primeira divisão aportou em frente a foz do rio Paraíba, enquanto a segunda se dirigiu para Lucena para desembarcar suas companhias. Em terra, 150 homens comandados pelo coronel Sigismund von Schkopp avançaram pela trilha estreita que dava no forte, único caminho possível já que era cercada pelo mangue de um lado e pelo mar do outro. Porém ao se aproximarem, seus batedores avistaram uma trincheira com paliçada bloqueando a estrada, mas, mesmo assim, Schkopp resolveu avançar aproveitando a noite. Tendo avistado os neerlandeses, a companhia do capitão Domingos de Almeida e a tropa indígena de Simão Soares, começaram a atirar e lançar flechas fazendo-os recuarem. Os neerlandeses voltaram pouco depois, munidos de machados e enxadas para destroçar a paliçada, porém foram novamente rechaçados. Na madrugada do dia 28, houve mais uma tentativa infrutífera, então Schkopp resolveu se entrincheirar e aguardar a vinda de reforços, porém Antônio de Albuquerque enviou tropas de Cabedelo para reforçar a defesa da paliçada e, ainda, enviou 500 homens, dentre os quais 200 índios, em barcas pelos manguezais, que atacaram os neerlandeses pela retarguada. Perdendo muitos homens, os holandeses tiveram que fugir às pressas.

Com reforços vindos da Europa, sob o comando do coronel Crestofle Arciszewski, mais as tropas sob o comando do coronel Schkopp, os neerlandeses dispunham de 2.534 soldados para conquistar a Paraíba. No dia 25 de novembro de 1634, a frota de ataque neerlandesa, composta de 29 navios, capitaneada pelo experiente Almirante Lichthart, partiu de Recife rumo a Paraíba, chegando a costa do Cabo Branco dia 4 de dezembro. Utilizando os iates e chalupas, desembarcaram parte de suas tropas na enseada do Jaguaribe, distante de Cabedelo. Três navios prosseguiram em frente com ordens de ancorar na ponta de Lucena. Recebendo a notícia que os neerlandeses estavam desembarcando na enseada, Antônio Albuquerque reuniu-se com as companhias dos capitães D. Gaspar de Valcaçar e Domingos de Arriaga e marchou para lá. Como era uma caminhada de quase dez quilômetros, quando chegaram, os neerlandeses já haviam desembarcado 600 homens que foram posicionados em três fileiras voltadas, uma para o mar, uma para a floresta e a outra para o caminho a frente, por onde vinha Albuquerque, com um canhão cada. O combate se desenrolou na enseada do Jaguaribe, porém vendo-se em desvantagem, Antônio de Albuquerque ordenou a retirada, mas durante a fuga alguns soldados foram capturados pelos neerlandeses e, um, em troca de sua liberdade, lhes informou sobre um caminho que levava ao Forte Cabedelo. No dia 5, os coronéis Schkopp, com 3 companhias, e Arciszewski, com duas, levando consigo, cada um, um canhão de bronze, avançaram pela praia rumo ao forte. A preocupação dos neerlandeses dessa vez, não era atacar, mas estabelecer seus acampamentos. O capitão Kaspar van der Ley foi destacado para seguir o caminho indicado pelo prisioneiro levando consigo 3 companhias, enquanto que o restante seguiu pelo rio até o forte. Ley encontrou um local ideal, "a um tiro de arcabuz" do forte e, ainda, protegido por uma colina. No dia 6, os holandeses estavam com três acampamentos prontos com suas baterias instaladas. No dia 9, de madrugada, 7 iates e 7 botes, com 400 soldados comandados pelo almirante Lichtart, tomaram de assalto o forte da Restinga, causando um dano irreparável a defesa da Paraíba. Os neerlandeses passaram a usar a bateria da Restinga contra os portugueses dificultando o remanejamento de tropas e o envio de suprimento entre os fortes de Cabedelo e Santo Antônio. Nos dias que se sucederam, as forças neerlandesas bombardearam o forte de Cabedelo constantemente, atingindo, por vezes, a sua parte interna. No dia 18, enquanto o Governador Antônio Albuquerque ainda planejava com o Conde de Bagnuolo e o capitão La Riba Aguero a melhor maneira de enviar reforços ao Cabedelo, sem que houvessem muitas baixas, os capitães do forte, Gregório Guedes Souto Maior e D. Gaspar de Valcaçar se renderam aos neerlandeses. Antônio Albuquerque, que estava no forte Santo Antônio, ao saber da perda, foi refugiar-se na ermida de Nossa Senhora da Guia (atual Igreja de Nossa Senhora da Guia). Dia 22, os neerlandeses começaram a tocar os tambores de rendição nas cercanias do forte Sto. Antônio. Os capitães Valcaçar, Munoz e Palomo, que haviam chegado com reforços, viram que o forte não tinha condições de resistir e se renderam, após negociações, na manhã do dia 23. Ao saber da rendição, o Conde de Bagnuolo, que se encontrava em Filipéia, ordenou que se queimassem as casas e os estoques de açúcar e de pau-brasil, para não deixar espólios ao vencedor, e ordenou ainda que os ocupantes do forte do Viradouro levassem quantos canhões pudessem carregar e se retirassem para o interior para montar uma resistência. Dada as ordens, partiu para Pernambuco com suas tropas. Antonio Albuquerque e suas companhias incendiaram três navios e dois armazéns carregados de açúcar e partiram para o interior. No dia 24, véspera der Natal do ano de 1634, os neerlandeses adentraram a cidade abandonada de Filipéia de Nossa Senhora das Neves.


Genealogia da Família Albuquerque Maranhão:

1. Jerônimo Albuquerque; índia Maria do Espírito Santo (Muyrã Ubi), fª. do cacique Uyrá-Ubi

2. Jeronymo d'Albuquerque Maranhão c.c. D. Catharina Feio/Feijó

3.1. Antonio d'Albuquerque Maranhão c.c. Joana Castello Branco

4.1. Affonso d'Albuquerque Maranhão

4.2. D. Antonia Margarida de Castello Branco c.c. Bras Telles de Meneses, filho de D. Fernando Telles de Faro Meneses e Carvalho, e de D. Marianna de Noronha, filha N. de Christóvão Soares e de D. Catharina de Noronha, filha de D. Francisco Pereira, Commendador de Pinheiro.

3.2. Mathias d'Albuquerque Maranhão c.c. Isabel da Câmara

     4.1. Afonso de Albuquerque Maranhão, sr. do engenho Cunhaú, c.c. Isabel de Barros Pacheco.

         5.1. Gaspar de Albuquerque Maranhão, igualmente sr. de Cunhaú, capitão-mor de Goianinha. Vivia em 1758 e c.c. Luzia Vieira de Sá

                  6.5 André de Albuquerque Maranhão, † 1806, coronel de regimentos auxiliares na Paraíba, c.c. Antonia Josefa do Espírito Santo Ribeiro. De seus quatro filhos descendem os de nome Albuquerque Maranhão, que existem até hoje

3.3. Jeronimo de Albuquerque Maranhão, a quem mataram os hollandeses no anno de 1631.

Engenho do Cunhaú, de propriedade dos Albuquerque Maranhão, no Rio Grande do Norte,
aonde se deu o massacre de brasileiros que se negaram a renunciar a Santa Fé Católica.

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